Arquivo de Janeiro, 2009

Telhados de vidro

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Eu sei que a foto não corresponde ao título do post, mas quem disse que telhados de vidro são literalmente telhados feitos de vidro? Os telhados de vidro são tantas coisas. Coisas novas, coisas velhas, geralmente coisas que queremos ocultar utilizando uma estratégia muito própria; a de chamar a atenção sobre os telhados dos outros.

Pois o meu telhado está aqui… mal cuidado, dirão alguns, cheio de tantas coisas que não deviam estar lá, dirão outros. Mas o certo é que estão, e não tenciono esconder ou retirar nenhuma delas. O meu telhado só serve para me abrigar do mau tempo lá fora. De vez em quando lá ajeito uma telha ou outra para que não me chova em cima, mais nada.

Abrigada debaixo dele olho em volta e vejo os outros telhados da aldeia. No geral são telhados bem cuidados, telhas limpas, bem arrumadas, novas… Mas o telhado não faz a casa, e essa sim é que me importa, o que está lá dentro, os seus alicerces.

O vento pode chegar e levar o telhado, mas se a casa tiver bons alicerces a estrutura aguenta-se e só haverá necessidade de substituír as telhas. Mais difícil será sempre reconstruír toda a casa. A minha é sólida.

Por que raio me fui lembrar de telhados de vidro?

Bom Fim de Semana!

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Pequenas coisas

Plenas de significado

De vontade

De querer

De partilhar

Pequenos gestos

Pequenas coisas

De amor

 

Da Aldeia

O casamento a referendo?! Não!

Como seria de esperar, lá estão os falsos moralistas, que até se intitulam pertencentes a grupos que não existem oficialmente, a atacar a moção que o nosso PM José Sócrates vai colocar ao congresso do PS, como parte do programa de governo para as próximas legislativas, que pretende tornar possível o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo no nosso país.

Vale de facto tudo quando se tem uma visão preconceituosa do mundo, e este auto-intitulado “Grupo de Socialistas Católicos” é só mais uma tentativa de gerar a dúvida e a confusão na opinião pública. Não lhes admito que se intitulem de uma coisa que eu também sou – Católica – para me atacarem por outra coisa que eu sou em simultâneo – Lésbica!

Quer este grupo que a questão do casamento Gay seja ,no mínimo, sujeita a referendo… Como se os direitos fundamentais das pessoas fossem questões sujeitas a referendos! E o porta-voz do grupo ainda se dá à liberdade de soltar pérolas homofóbicas e preconceituosas como estas: “os casamentos gay fazem parte de um conjunto de propostas aberrantes, como a eutanásia ou a legalização das drogas e da prostituição“, tudo isto debaixo da capa de ser “católico“? Francamente Sr. Claudio Anaia, esta sua afirmação é que é uma perfeita aberração!

Porque insiste esta gente em querer misturar as coisas? O casamento de que falamos é o casamento Civil. Tal como diz também a notícia no Correio da Manhã, os casamentos só pelo Civil, são actualmente cerca de 1/3 do total dos casamentos realizados, o que quer dizer que também aqui a Igreja está a perder terreno, num país oficialmente Católico.

Mas, não somos nós, Gays, que vamos contribuír para o aumento ou redução dos casamentos pela Igreja, até porque não somos bem vindos por lá, por tudo o que se pode ler nas notícias e nas opiniões de representantes da Igreja, desde o Papa que nos pretende “tratar de forma ecológica“, como fez no seu discurso de Natal, até ao porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa que nos chamou de distracções!

A única coisa que queremos é o reconhecimento mais do que devido de direitos fundamentais. O casamento confere um elevado numero de direitos e obrigações, dos quais os casais Gays não têm de ficar inibidos em relação à restante população.

Estamos a falar de direitos sucessórios, de assistência à família , de impostos, de seguros de saúde, etc.. Estamos a exigir o acesso a uma série de coisas que a restante população tem como garantidas mas que a nós estão vedadas, únicamente com base na discriminação, pela nossa orientação sexual.

Menos mal que a posição da JS e de Vitalino Canas (porta-voz do PS) não nos dão indicação de que a questão ainda venha a ser submetida a referendo! Por enquanto…

Avé Maria cheia de graça!

Aqui na Aldeia é uma tradição enraizada desde sempre a ida à missa ao Domingo. Pessoalmente também gosto de assistir à missa na capela de S. Miguel cá da terra, sinto-me bem e faz-me bem.

Não vou lá pela homilia, dispenso perfeitamente determinado tipo de imposição de ideias e principios, e chego até a achar por vezes escandaloso o uso que é dado pela santa Igreja a esse momento da missa, em que tantas vezes vemos os padres a entrarem com o seu discurso por campos que não são seus e a manipular a opinião das pessoas, fazendo politica pura e dura num espaço que deve ser dedicado a tantas outras coisas que não essa… Para isso temos os partidos políticos, a AR, o governo e tantos outros orgãos de decisão política.

A ideia de que politica e religião não deviam partilhar o mesmo espaço nunca passou de um mito, eu sei, mas gostaria de ver pelo menos um certo esforço por parte dos representantes da Igreja para que isso fosse minimamente verdade.

Para além da política, temos também os valores morais que nos querem forçar a aceitar, e é precisamente por isso que estou hoje aqui a escrever. É que hoje, quando cheguei ao quiosque dos jornais antes de apanhar o autocarro, deparei com o Correio da Manhã que trazia em letras gordas o título “Homilias contra casamentos Gay“.

Está lançada mais uma guerra agora que o nosso PM decidiu anunciar para a próxima legislatura que vai querer aprovar legislação que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo… Já lá vem a Santa Sé e o disparate sobre os valores morais, esquecendo, como sempre fez até aqui, que nós, Gays, também somos filhos do mesmo Deus, sim, aquele mesmo que quer que nos amemos uns aos outros como nos amamos a nós próprios!

Ler na notícia as palavras que foram ditas por “dignos” representantes da Igreja a respeito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, é no mínimo chocante, até pelos argumentos utilizados, ora vejam:

Os governantes deviam preocupar-se com as questões que realmente interessam às pessoas, como o desemprego, as falências de empresas e a pobreza, em vez de apostarem em temas que servem para entreter e distrair“, afirmou o Padre Manuel Morujão, porta-voz da CEP.

Somos então, depreende-se, uma mera distracção… e se bem entendo, por esta mesma lógica, o meu Deus, que é o deles também, estaria distraído quando nos “fez” a nós, Gays. Tem é um pequeno pormenor, já leva séculos distraído!

Com tudo isto, espero que o padre da minha Aldeia não se lembre de fazer também uso da homilia para lançar este tipo de discurso na capela de S. Miguel, porque senão, garanto que ele vai ter que responder a umas quantas questões ali mesmo… olarecas se vai! 

Vitória da igualdade? Assim seja!

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E eis que volta à discussão o assunto casamentos entre duas pessoas do mesmo sexo. Depois do recente chumbo às propostas do BE e da CDU na AR, eis que o nosso Primeiro Ministro volta ao assunto, querendo relançar a discussão. É pena que isto só aconteça com claros intuitos eleitoralistas e dentro de uma perspectiva que, se verdadeiramente analisada, nos indica desde já que não será tão breve que veremos esta questão arrumada favorávelmente. Seria necessário que o PS saísse vencedor nas próximas eleições legislativas, e que, mesmo não atingindo a maioria absoluta, pudesse a margem de votos da CDU e do BE ser suficiente para fazer passar esta legislação na AR.

A notícia saíu ontem, e já mereceu a reacção de ILGA Portugal:

Ao apresentar domingo a moção que vai levar ao congresso do PS, José Sócrates referiu que a consagração dos direitos de uma minoria social (a homossexual) representará a vitória de toda a sociedade portuguesa, porque se traduzirá em mais tolerância e dignidade individual. Para o líder socialista, trata-se de “eliminar uma discriminação histórica, que não honra nenhuma sociedade aberta”. 

De acordo com Sócrates, o debate sobre os casamentos homossexuais será feito “em nome da liberdade, da igualdade e da dignidade individual e da luta contra todos os tipos de discriminação”. “Dir-me-ão que estamos a falar de uma minoria; dir-me-ão que o problema é apenas de uma minoria, mas quero dizer o seguinte aos camaradas: o reconhecimento dos direitos e da dignidade de uma minoria é a vitória de todos, porque é a vitória da tolerância, da liberdade, da igualdade e da dignidade de todos os portugueses”, disse. 

In EXPRESSO

Foto daqui!

Sofia Escobar – Uma História de Sucesso

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É Portuguesa, nascida em Guimarães e com 28 anos de idade é um excelente exemplo de sucesso.
Não quis deixar de fazer aqui a minha homenagem a esta jovem actriz Portuguesa que tem encantado nos palcos Britânicos – primeiro em “O Fantasma da Ópera” e agora em “West Side Story”. As suas qualidades artísticas, e especialmente a sua excelente voz, valeram-lhe desde já a nomeação para “Melhor Actriz de Teatro Musical” em Inglaterra e parece de facto muito bem colocada para vir a ganhar este prémio.
Ontem foi Cristiano Ronaldo, hoje é Sofia Escobar que nos faz acreditar que afinal nasce muito talento no nosso burgo.
Fico muito feliz por não ser só o futebol a transportar o nome do nosso país por esse mundo fora, temos outros talentos, muitos outros felizmente. Força Sofia!

Foto: Alastair Muir

Velhos hábitos

Nos últimos tempos tenho dado especial atenção a uma compreensão mais profunda de mim própria, e com isso, tenho também tentado compreender melhor cada uma das pessoas que de alguma forma me estão próximas.
Tenho perfeita consciência de que cada passo é uma escolha, uma encruzilhada que pode mudar tudo. Percebo que talvez exactamente por isso seja tão difícil manter-me fiel aos sentimentos que mais desejo experimentar: alegria, auto-estima e amor.
Vacilar pode modificar absolutamente tudo. Transformar o amor em ciúme, egoísmo, raiva ou até medo, a alegria transformar-se em tristeza em dúvida, e a auto-estima transformar-se em insegurança, em dor.
Sou passional, reajo, e esse é talvez o meu maior problema. Problema, porque normalmente reajo automaticamente, baseada em defesas internas que ali vivem há tanto tempo e que me limitam, porque entretanto já se tornaram hábito.
Em último caso, tenho feito assim: quando ainda não sei qual a acção que posso tomar perante um sentimento difícil, opto pelo silêncio. Respiro fundo, entro em contacto com o que estou a sentir, reconheço que me estou a deixar atingir pelo que está a acontecer e espero, em silêncio, até que consiga encontrar, dentro de mim, uma nova maneira de agir diante de velhos sentimentos… de velhos hábitos.

Bom dia e Bom Fim-de-semana a tod@s!

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Os Ventos que às vezes nos tiram algo que amamos,

São os mesmos que nos trazem algo que aprendemos a amar.

Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado,

E sim aprender a amar o que nos foi dado,

Por tudo aquilo que é realmente nosso,

Nunca se vai para sempre…

“Viver é uma arte…

Amar é a melhor parte!!!”

por Blade


Culpem a Religião, não a Raça

Após a votação na Califórnia da famosa Prop8, que teve como resultado o Não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo naquele estado – apesar de já haver legislação em vigor que o permitia – surgiram diversas discussões e teorias sobre as razões que levaram a este resultado. Levantaram-se diversas vozes que apontaram inclusivamente para as pessoas de etnia Africana e Latina que votaram, como sendo responsáveis em grande parte por este resultado.

Hoje, chegamos a novas conclusões, não menos interessantes, mas que apontam numa nova direcção.

Aparentemente, após a pesquisa conjunta de diversas entidades, entre elas a National Gay and Lesbian Task Force, chega-se à conclusão que aqueles que votaram contra os casamentos gays na Califórnia têm quatro coisas em comum:

1 – Vão à missa todas as semanas

2 – São republicanos

3 – São conservadores

4 – Nasceram antes da 2ª Guerra Mundial

Terão sido estes os factores, em vez da raça ou género, que fizeram a diferença. Isto naturalmente levanta novas discussões e novas descobertas, pois chega-se entre outras coisas à conclusão de que o voto não foi influenciado pelo facto de o votante conhecer ou não uma pessoa gay. Um dos pesquisadores sublinhou até o facto de a oposição ao casamento gay não ser uma coisa pessoal, mas sim uma coisa de partisans: “Se a pessoa for Republicana, religiosa e conservadora, é também contra o casamento gay, não importa quantas pessoas gay a pessoa cumprimente quando as encontra por exemplo na mercearia local”.

Um ponto interessante que sobressai das conclusões retiradas deste estudo pela Task Force é o de que os Cristãos LGBT deveriam esforçar-se mais por comunicar e contactar com os demais membros dentro das suas igrejas. Um diálogo mais substancial poderá ter um poderoso impacto, sendo claro também que é necessária uma melhor interpelação, mais frequente e mais forte aos líderes religiosos sobre ser moralmente bom e positivo o apoio a todas as famílias, não só às famílias “tradicionais”.

Seria interessante ver um estudo destes realizado cá na Aldeia. Qual seria o resultado?

Baseado no artigo de opinião de Jennifer Vanasco, editor in chief, 365gay.com

Paragem de autocarro

Estava um dia horrível. Daqueles dias em que, sem que algo o fizesse prever, no meio de um calor intenso e húmido, começou a chover torrencialmente e apanhou toda a gente de surpresa.

Corri para me abrigar na paragem de autocarro que me levaria de volta à Aldeia, mas mesmo assim não consegui evitar uma grande molha. O meu humor também já tinha conhecido melhores dias e aquele calor seguido da chuvada torrencial não contribuíram certamente para o melhorar. O jornal que acabara de comprar no quiosque, utilizei-o como abrigo da chuva enquanto corria para a paragem. Pura tolice, eu sei, pois não só não me evitou a molha, como acabou por ficar empapado e num estado irrecuperável.

Para melhorar as coisas, eis que passa um daqueles condutores espertinhos que fazem questão de acertar nas poças de água que se formam quando chove e se divertem à custa dos transeuntes… acertou em cheio na poça que se formara em frente à paragem e apanhei um banho de alto a baixo! Enquanto o insultei de tudo o que me veio à cabeça tentei sacudir a água da roupa… em vão. Sentei-me furiosa no pequeno banco da paragem de autocarro, procurando um ângulo em que a chuva que teimava em cair não me atingisse.

Coloquei a minha cara 38 e estava capaz de morder o primeiro incauto que se aproximasse e tentasse sequer trocar uma palavra comigo. Enquanto maldizia o tempo e a vida, só desejava que o autocarro chegasse e me levasse a casa onde um bom duche quente talvez me salvasse daquele estado miserável.

Foi neste momento que senti que alguém se aproximava de mim e olhei com a minha cara de poucos amigos para evitar qualquer tipo de conversa. Era uma mulher jovem, muito bonita, que tentava também abrigar-se da chuva no espaço exíguo da paragem onde eu me encontrava. Não sei de onde veio a minha súbita boa disposição e vontade de comunicar, mas ao olhar aquela mulher, de imediato a minha cara se transformou num sorriso amistoso e prontamente me desloquei um pouco para o lado, no banco, dando-lhe espaço para que se sentasse, apesar de isso implicar que eu iria ficar um pouco exposta à chuva.

– Está um dia horrível, não está? – Perguntei.

– Sim, está mesmo. – Respondeu, enquanto com um lenço procurava enxugar o rosto, o que a fez ficar praticamente sem maquilhagem, mas tornou o seu rosto ainda mais radiante.

Ela trazia vestida uma camisa e uma saia, roupa típica de quem trabalha num escritório ou algo do género, mas que com a chuva se haviam colado por completo, delineando perfeitamente as linhas do seu corpo.

– Vem do trabalho? – Perguntei. Aliás, foi a única pergunta que me ocorreu e que me permitiria ganhar mais algum tempo para poder continuar a olhar para ela e para o seu bonito corpo, admirando as suas formas sem me tornar suspeita.

– Sim, venho. Esta chuva apanhou-me completamente desprevenida. Estou encharcada. – Respondeu com ar pesaroso.

Estive a ponto de lhe dizer que apesar do desconforto, aquela chuva lhe assentava muito bem. O efeito causado no seu cabelo longo e molhado, a roupa colada ao corpo, o rosto lavado e reluzente… em vez disso, saíu-me uma frase que ainda hoje me pergunto onde a fui buscar:

– O aquecimento global está a fazer notar cada vez mais os seus efeitos.

– Sim, é verdade. – Disse com um sorriso.

Mas que estava eu a dizer? Que raio de conversa mais gasta era esta que eu estava a fazer? De onde vinham aquelas palavras. Nunca na minha vida me imaginaria sequer a fazer uma conversa destas.

– Está a chegar o meu autocarro! Também vem neste? – Perguntou-me.

– Não. Vou para outro lado. – Respondi.

Sorriu e começou a encaminhar-se para o autocarro. Foi então que me surpreendi ainda mais a mim própria, quando ouvi a minha voz dizer bem alto:

– Olhe… Obrigada!

Ela parou, deu meia volta e olhou para mim com um ar de incredulidade e surpresa que me fez desejar enfiar pelo chão abaixo e pedindo a todos os santos para que mais ninguém tivesse ouvido o que eu acabara de dizer.

– Obrigada? Porquê? – Perguntou-me.

– Por me ter alegrado o dia. – Respondi.

Ela acenou um adeus com a mão e correu para o autocarro que entretanto já retomava a sua marcha.

Dirigi-me ao cesto do lixo mais próximo e arremessei lá para dentro o jornal empapado que ainda tinha na mão, como se com aquele gesto pudesse também retirar da minha cabeça aquela linda jovem e os meus pensamentos sobre ela. Olhei ainda enquanto o autocarro se afastava e fiquei ali na paragem aguardando a chegada do meu autocarro, com uma diferença; agora, para além do mau humor que voltou, estava também acompanhada de um estranho sentimento de perda.


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